Hipertensão Arterial
O que é a pressão ou tensão arterial?
A pressão arterial corresponde à força que o sangue, impulsionado pelo coração, exerce sobre as paredes das artérias por onde circula, uma pressão indispensável para que este possa circular até aos capilares e alcançar todos os tecidos periféricos. Depende da força da contração do coração, da quantidade de sangue e da resistência das paredes dos vasos.
A pressão arterial varia ao longo do ciclo cardíaco podendo ser:
- Máxima ou sistólica que corresponde ao momento em que o ventrículo esquerdo bombeia o seu conteúdo para a aorta (sístole): a grande artéria acolhe subitamente uma maior quantidade de sangue, o que faz com que a pressão no seu interior atinja o valor máximo, que em condições de repouso é de cerca de 120 a 140 mm Hg (milímetros de mercúrio)
- Mínima ou diastólica que corresponde ao momento em que o ventrículo esquerdo está a encher-se de sangue (diástole): a elasticidade das paredes da aorta faz com que a artéria impulsione o sangue para os vasos periféricos e, assim, a pressão no seu interior atinge o valor mínimo de aproximadamente 80 mm Hg
Como varia a pressão ou tensão arterial?
Geralmente observam-se valores tensionais mais altos durante as horas de vigília e menores durante o sono tanto em normotensos como em hipertensos.
Além das variações vigília-sono, inúmeros estímulos físicos e mentais, tais como emoções, postura, exercício físico, actividade sexual, micção e ingestão de alimentos determinam o padrão do comportamento da pressão arterial.
Como é controlada pressão ou tensão arterial pelo organismo?
Existem complexos mecanismos de regulação no organismo humano que permitem adaptar a pressão arterial às necessidades fisiológicas de cada momento, assegurando assim o fluxo sanguíneo contínuo a todos os tecidos do organismo. Podem ser de dois tipos:
- Acção rápida que se activam em poucos segundos ou minutos. São os barorreceptores (terminações nervosas sensíveis ás variações de pressão sanguínea) e os quimiorreceptores, estimulados caso detectem uma redução da concentração de oxigénio ou volume de sangue circulante). Se a activação dos barorreptores não for contínua, ou seja, se a pressão arterial for baixa, vai aumentar a frequência cardíaca, o volume de ejecção (devido ao aumento da força de contracção e aumento do retorno venoso) e da aumento da resistência vascular periférica (contracção das arteríolas)
- Acção prolongada os mecanismos de acção rápida não controlam permanente e eficazmente a pressão arterial, sendo necessário ajustar o volume sanguíneo para controlar a pressão arterial. Este controlo é feito pelo sistema urinário (renal), que caso se produza uma grande descida da pressão arterial, , as células especializadas do rim segregam para o sangue uma hormona denominada renina. Esta hormona activa um precursor denominado angiotensinogénio, que se transforma, após reacções bioquímicas catalizadas pela enzima de conversão, em angiotensina II, um potente vasoconstritor periférico, que provoca a contracção das pequenas arteríolas e estimula as glândulas supra-renais a produzir outra hormona, denominada aldosterona, que aumenta a reabsorção de água pelo rim. Assim haverá aumento da pressão arterial.
O que é a hipertensão arterial?
Define-se como valores de pressão/tensão arterial cronicamente elevados, ou seja, superiores a 130 mmHg de pressão arterial sistólica e/ou a 85 mmHg de pressão arterial diastólica, sendo os valores normais os registados abaixo de 120/80 mmHg.
Quais as suas causas?
A hipertensão arterial em 95% dos casos tem etiologia desconhecida, sendo denominada hipertensão primária, se a causa da mesma for devida a outra patologia/condição então é chamada de hipertensão secundária. As causas de hipertensão secundária incluem:
- Apneia do sono
- Doença renal crónica
- Aldosteronismo primário
- Doença renovascular
- Relacionada com a toma de fármacos/drogas
- Terapia com esteróides
- Síndrome de Cushing
- Feocromocitoma
- Coartação da aorta
- Doenças da tiróide/paratiróide
Como é feita a sua medição?
A medição da tensão arterial por ser feita indirectamente recorrendo a esfigmomanómetro manual, automático esporadicamente ou então uma medição ambulatória de 24 horas. Pode ser feita directamente pela colocação invasiva de um transdutor numa artéria.
Medição manual e automática
A medida da pressão arterial é simples e o método é fácil e pode ser realizada no domicílio, mas certos cuidados e recomendações devem ser levados em consideração para que se evitem erros.
Recomendações:
- O paciente deve estar em repouso de 3 – 5 minutos antes da medição
- O paciente não deve no período de 30 minutos antes da medida:
- Estar com a bexiga cheia
- Ter ingerido bebidas alcoólicas, café ou outros estimulantes
- Ter fumado
- Não ter praticado exercício físico 90 minutos antes
- Deve desencorajar-se a automedição da PA em casa, sempre que:
- Provoque ansiedade ao pacient;
- Induza alteração do regime terapêutico por parte do próprio
Equipamento/Material:
- Mesa e cadeira estáveis
- Ambiente calmo com temperatura agradável
- Aparelho de medida de pressão calibrado (recomenda-se calibração anual) - estetoscópio + braçadeira com insuflador ou medidor automático
- Esferográfica e papel
Procedimento - Método Indirecto Auscultatório - Manual ou automático:
- O paciente deve estar sentado calmamente e depois do descanso de 3 a 5 minutos, deve colocar o braço não dominante ao nível do coração (dextros - a medição é feita no braço direito e canhotos no braço direito), com a palma da mão aberta, pousada e virada para cima e cotovelo ligeiramente flectido
- Manter pernas descruzadas, pés apoiados no chão, dorso recostado na cadeira e relaxado
- Colocar o monitor/manómetro de modo a visualizar claramente os valores da medida
- Colocar a braçadeira no membro superior respectivo (a largura do manguito deve corresponder a 40% da circunferência braquial e seu comprimento a 80%)
- Localizar a artéria braquial ao longo da face interna superior do braço palpando-a (no caso de medidor manual)
- Envolver a braçadeira, suave e confortavelmente, em torno do braço, centralizando o manguito sobre a artéria braquial. Manter a margem inferior da braçadeira 2,5cm acima da dobra do cotovelo (2 dedos). Encontrar o centro do manguito dobrando-o ao meio
- Posicionar o estetoscópio sobre a artéria braquial palpada abaixo do manguito na fossa antecubital. Deve ser aplicado com leve pressão assegurando o contato com a pele em todos os pontos. As olivas do estetoscópio devem estar voltadas para frente
- O paciente não deve fazer força no braço ou mão ou falar durante a medição
- Fechar a válvula da pera e insuflar o manguito rapidamente (normalmente até 300 mmHg), já na medição manual iniciar a medição no aparelho
- Determinar a pressão sistólica na auscultação do primeiro som (fase I de Korotkoff), que é um som fraco seguido de batidas regulares e, após, aumentar ligeiramente a velocidade de deflação
- Determinar a pressão diastólica no desaparecimento do som (fase V de Korotkoff)
- Auscultar cerca de 20 a 30 mmHg abaixo do último som para confirmar seu desaparecimento e depois proceder à deflação rápida e completa
- Se os batimentos persistirem até o nível zero, determinar a pressão diastólica no abafamento dos sons (fase IV de Korotkoff) e anotar valores da sistólica/diastólica/zero
- Esperar de 1 a 2 minutos para permitir a liberação do sangue. Repetir a medida no mesmo braço anotando os valores observados
- Fazer três medições e registar na média
- A medição no braço contralateral também pode ser útil, pois casa haja muita assimetria pode ter significado clínico (estenoses e/ou coartação da aorta)
Se as medições se revelarem acima dos valores de normalidade (pacientes não medicados) e acima dos valores habituais (135/85 mmHg) para pacientes medicados deve consultar o médico de família ou um Cardiologista!
Como se classifica?
Segundo a British Society of Hipertension a hipertensão pode ser classificada nos seguintes estadios:
Estadio | Pressão arterial sistólica (mmHg) | Pressão arterial diastólica (mmHg) |
Óptima | <120 | <80 |
Normal | <130 | <85 |
Normal/Alta | 130-139 | 85-89 |
Grau 1 (Ligeira) | 140-159 | 90-99 |
Grau 2 (Moderada) | 160-179 | 100-109 |
Grau 3 (Severa) | >/=180 | >/= 110 |
Sistólica Isolada Grau 1 |
140-159 |
<90 |
Sistólica Isolada Grau 2 | >/= 160 | <90 |
Como é feito o seu tratamento?
O início do tratamento para a redução da PA deverá ser decidido com base em dois critérios o nível de pressão arterial sistólica e diastólica e o nível de risco cardiovascular global, na qual o tratamento é considerado tendo com base as alterações do estilo de vida e os fármacos anti-hipertensores, juntamente com recomendações em relação ao período de tempo a ser considerado na avaliação dos efeitos de redução da pressão arterial.
O objectivo tratamento consiste em obter a redução máxima no risco global a longo prazo de doença cardiovascular. Este objectivo exige o tratamento da PA elevada, assim como de todos os factores de risco reversíveis associados. Passando para números concretos:
- A PA deve ser reduzida, pelo menos, para valores inferiores a 135/85 mmHg (sistólica/diastólica) e para valores inferiores, se tolerados, em todos os doentes hipertensos
- A PA-alvo deve ser de pelo menos < 130/80 mmHg nos diabéticos e em doentes de risco alto ou muito alto, tais como aqueles em que existem situações clínicas associadas (AVC, enfarte do miocárdio, disfunção renal, proteinúria)
- Apesar da utilização de tratamento combinado, a redução da PA sistólica para < 135 mmHg pode ser difícil, e ainda mais se o objectivo for a redução para < 130 mmHg. Devem esperar-se dificuldades adicionais em doentes diabéticos e em idosos, e, em geral, em doentes com lesão cardiovascular.
De forma a atingir mais facilmente a redução desejada da PA, o tratamento anti-hipertensor deve ser iniciado antes de se desenvolver lesão cardiovascular significativa.
As 5 classes major de agentes hipertensores utilizados para o tratamento da HTA são apropriados para o início e prosseguimento do tratamento anti-hipertensor, isolados ou em combinação:
- Diuréticos tiazídicos
- Antagonistas dos canais cálcio
- Inibidores da Enzima de Conversão da Angiotensina
- Antagonistas dos receptores da angiotensina
- Bloqueadores adrenérgicos-beta