Diabetes

  • 347 milhões de pessoas no mundo têm diabetes
  • Em 2004, cerca de 3,4 milhões de pessoas morreram em consequências de hiperglicemias
  • A OMS estima que os óbitos por diabetes aumentarão em dois terços entre 2008 e 2030

 

O que é?

    A diabetes é uma doença crónica que ocorre quando o pâncreas não produz insulina suficiente, ou quando o corpo não pode utilizar eficazmente a insulina que produz (OMS,2012).

    Quando se utiliza o termo diabetes mellitus já se está a falar de  desordem metabólica de etiologia múltipla caracterizada por hiperglicemia crónica com distúrbios de carboidratos, gorduras e proteínas metabolismo resultante de defeitos na secreção de insulina, a acção da insulina, ou ambos (OMS, 1999).

 

Qual a sua etiologia e classificação?

 

    As causas para a diabetes podem ser genéticas (Tipo 1), dependentes dos hábitos de vida (Tipo 2), gravidez (Gestacional) ou causas raras como a pancreatite, fibrose cística, a exposição a certas drogas/fármacos, vírus ou mesmo por causas desconhecidas.

  • Diabetes tipo 1 geralmente desenvolve-se na infância e adolescência e os pacientes necessitam de injecções de insulina ao longo da vida para sobreviver
  • Diabetes tipo 2 usualmente aparece na idade adulta e está relacionada com a obesidade, falta de atividade física e alimentação não saudável. Este é o tipo mais comum de diabetes (que representa 90% dos casos de diabéticos em todo o mundo) e tratamento pode envolver mudanças de estilo de vida e perda de peso por si só, ou medicação oral ou mesmo injeções de insulina
  • Diabetes gestacional aparece devido ao estado de hiperglicemia que se desenvolve durante a gravidez /atinge cerca de 4% das grávidas)

 

Quais são os mecanismos patológicos que levam à sua manifestação?

 

    Primeiramente é necessário referir que diabetes mellitus, independentemente da causa subjacente, está subdividida na necessidade de insulina para sobreviver (deficiência em péptido C) ou  necessidade de insulina para o controlo metabólico, e não para sobreviver (existe alguma secreção endógena de insulina mas, esta, é insuficiente para atinguir normoglicemia sem administração de insulina exógena) ou sem necessidade de administração de insulina (quando a glicemia pode ser controlada  por métodos farmacológica ou não farmacológicamente, sem a insulina).

 

Tipo 1

 

    As hormonas que intervém no metabolismo da glucose são a insulina, glucagon, catecolaminas, hormonas do crescimento e cortisol. A insulina é considerada a mais importante e a sua produção ocorre nas ilhotas de Langerhans, células do pâncreas endócrino, distribuídos por todo o órgão, embora principalmente na cauda.

   Pensa-se que aparece devido a uma anomalia no receptor HLA-DR 3/4 (receptor MHC de classe II na superfície celular codificada pelo complexo antigénio de leucócitos humanos na região do cromossoma 6 6p21.31, responsável pela rejeição de transplantes de tecidos em dadores HLA-incompatíveis, várias condições auto-imunes, doença de susceptibilidade e resistência às doenças) activa  anticorpos anti-GAD (descarboxilase do ácido glutâmico), anticorpos contra as células dos ilhéus ou contra insulina e que identificam o processo auto-imune que conduz à destruição das células beta. Ou então o enfraquecimento das células beta pode ser causado por agentes ambientais, Vírus ou toxinas ou ser mesmo idiopático em indivíduos não-caucasianos.

 

   A lesão imunitária da células beta mediada por anticorpos e linfócitos maior do que 80% destas leva à diminuição da produção de insulina e consequente aparecimento da diabetes tipo 1.

 

Tipo 2

 

    Este corresponde à forma mais comum de diabetes que resulta de defeitos na secreção de insulina, quase sempre com uma grande contribuição da insulinorresistência. É caracterizado por distúrbios na acção e secreção da insulina, podendo qualquer uma delas ser predominante. Ambas estão, geralmente, presentes no momento em que esta forma diabetes se manifesta clinicamente.

Usualmente a diminuição da sensibilidade à insulina é determinada por:

  • Mutações nos genes do receptor e da sua via de sinalização
  • Obesidade (Índice de massa corporal superior a 30 Kg/m2 e a obesidade abdominal pode acelerar o processo de resistência):

     - Desregulação das Adipocinas (hormonas proteicas que os adipócitos libertam para a circulação sistémica em resposta a alterações metabólicas)

       como por exemplo a leptina. Esta actua ao nível do sistema nervoso central para induzir a saciedade, ou seja, aumenta a sensibilidade à insulina. Caso

       haja uma diminuição por anomalia do gene IGFBP2, pode levar resistência à insulina

     - Ácidos gordos livres um nível de triglicéridos intracelular muito aumentado no músculo e no fígado  e produtos do metabolismo dos Ácidos Gordos são

       potentes inibidores da sinalização pela insulina

     - Disfunção das células β por degenerescência (amiloidose) ou perda do padrão normal de secreção da insulina por haver  uma maior secreção de

       insulina devido à elevada necessidade das células periféricas em glucose (hiperinsulinémia)

     - Se houver disfunção das célulua beta poderemos ter diabetes tipo 1 – like

 

Gestacional

 

  Refere-se à intolerância aos hidratos de carbono que resulta em hiperglicemia de gravidade variável e que tem início ou é reconhecida durante gravidez. Não exclui possibilidade da intolerância à glicose anteceder gravidez e de não ter sido, previamente, reconhecida. É causada pelo  aumento plasmático e pelo esgotamento das células beta no final do 2ºtrimestre e durante todo o 3º de gravidez devido à presença de hormonas anti-insulínicas (cortisol, prolactina, Progesterona) que diminuem o nº de receptores e afectam os mecanismos intracelulares.

 

Quais são os seus sintomas?

 

    Na maioria das vezes os sintomas não são graves, podendo até estar ausentes, e consequentemente pode estar presente durante muito tempo uma hiperglicemia suficiente para causar alterações patológicas e funcionais, antes de ser feito o diagnóstico. Dependendo do tipo de diabetes poderemos ter diferente sintomatologia.

 

Tipo 1

  • Polidipsia (sede excessiva)
  • Poliúria (muito volume urinário acompanhada ou não de micção frequente e nocturna)
  • Polifagia (muito apetite)
  • Perda de peso
  • Cansaço fácil

Estes sintomas normalmente aparecem repentinamente, contudo podem ser apenas detectados quando há coma, ou perda a consciência sem causa aparente.

Tipo 2

Aproximadamente metade dos portadores de diabetes tipo 2 desconhecem sua condição, uma vez que a doença é pouco sintomática. Quando presentes estes são:

  • Comuns aos do diabetes tipo 1
  • Vista embaciada ou turvação visual
  • Infecções frequentes, sendo as mais comuns as infecções de pele

 

Gestacional

  São comuns aos dois tipos de diabetes e também ser confundidos com os sintomas da própria gravidez como vómitos, infecções do aparelha genito-urinário, edemas, etc.

 

 

Como é feito o seu diagnóstico?

    A Hiperglicemia Intermédia, também conhecida como pré-diabetes é uma condição em que os indivíduos apresentam níveis de glicose
no sangue superiores ao normal, não sendo, contudo, suficientemente elevados para serem classificados como Diabetes.
    As pessoas com Hiperglicemia Intermédia podem ter Anomalia da Glicemia em Jejum (AGJ) ou Tolerância Diminuída à Glicose (TDG), ou ambas as condições simultaneamente. Estas condições são atualmente reconhecidas como fator de risco vascular e um aumento de risco para a Diabetes.
    Os critérios de diagnóstico da Hiperglicemia Intermédia ou de identificação de categorias de risco aumentado para Diabetes são, de acordo com a Norma DGS N.º 2/2011, de 14/01/2011, os seguintes:

  • Anomalia da Glicemia em Jejum (AGJ)

    − Glicemia em jejum ≥ 110 mg/dl e < 126 mg/dl (ou ≥ 6,1 e < 7,0 mmol/l)

  • Tolerância Diminuída à Glicose (TDG)

    − Glicemia às 2 horas após a ingestão de 75 gr de glicose ≥ 140 mg/dl e < 200 mg/dl (ou ≥ 7,8 e < 11,1 mmol/l)

  • Diabetes Mellitus

     − Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dl (ou ≥ 7,0 mmol/l)

     − ou Sintomas clássicos de descompensação + Glicemia ocasional ≥ 200 mg/dl(ou ≥ 11,1 mmol/l)

     − ou Glicemia ≥ 200 mg/dl (ou ≥ 11,1 mmol/l) às 2 horas, na prova de tolerância à glicose oral (PTGO) com 75g de glicose (para as crianças é

        determinada com base no peso corporal: 1,75 g por Kg)

     − ou Hemoglobina glicada A1c (HbA1c) ≥ 6,5 %.

  •   Diabetes Gestacional

     − Glicemia plasmática em jejum ≥ 92 mg/dl (5,1 mmol/l)  e < 126 mg/dl (7,0 mmol/l)

 

   A determinação da concentração plasmática de glucose deve ser realizada rotineiramente, contudo a  PTGO deve ser realizada a:

  • Todas as pessoas com mais de 45 anos (se o teste for normal repetir de 3 em 3 anos)
  • Pessoas mais jovens quando:

      - Obesas

      - Tenham um parente em 1º grau com diabetes

      - Tenham tido diabetes gestacional ou um bébé commais de 4 Kg

      - Sejam hipertensas (>135/85mmHg)

      - Tenham um valor de triglicéridos ≥ 250 mg/dl

      - Num teste anterior tenham demonstrado intolerância à glucose

 

   As provas de rastreio para diabetes gestacional são feitas, geralmente, entre as 24.ª e as 28.ª semanas de gestação. Poderá ser apropriado fazer-se o rastreio, no primeiro trimestre da gravidez, nas mulheres que pertencem populações de alto risco, de forma detectar uma diabetes mellitus previamente não diagnosticada.

 

Quais são os factores risco?

 

    Os factores de risco para desenvolver Diabetes Mellitus são:

  • Hereditariedade (como por exemplo as anomalias genéticas)
  • Idade superior a 45 anos
  • Sedentarismo
  • Excesso de peso
  • Privação de sono
  • Má nutrição
  • Diabetes gestacional mulheres mais velhas, as que têm história prévia de intolerância à glicose ou de bébés grandes para idade gestacional, mulheres pertencentes grupos étnicos de risco elevado e qualquer mulher grávida que tenha valores de glicemia, em jejum ou ao acaso, elavados

 

Quais são as principais complicações?

 

    Os efeitos da diabetes mellitus a longo prazo, incluem danos, disfunção e falência de vários orgãos. Na maioria das vezes os sintomas não são graves, podendo até estar ausentes, e consequentemente pode estar presente durante muito tempo uma hiperglicemia suficiente para causar alterações patológicas e funcionais, antes de ser feito o diagnóstico.

Os efeitos longo prazo da diabetes mellitus incluem:

  • Retinopatia diabética podendo levar a  cegueira/cataratas
  • Nefropatia que pode conduzir insuficiência renal
  • Neuropatia com risco de ulcerações nos pés, amputações, artropatia de Charcot e sinais de disfunção autonómica, incluindo disfunção sexual
  • Risco aumentado de doença cardiovascular (2 a 4 vezes superior), vascular periférica e cerebrovascular
  • Perturbações nos metabolismos glucídico, lipídico e protídico devido à deficiente acção da insulina nos tecidos alvo que resulta da insensibilidade ou falta de insulina

 

 

 

 

 

Qual o seu tratamento?

 

   O principal objetivo no tratamento de diabetes é minimizar qualquer elevação do açúcar (glucose) no sangue, sem causar níveis anormalmente baixos de açúcar (hipoglicemia).

    A diabetes tipo 1 é tratada com insulina, exercício físico , dieta própria (será referida na secção de nutrição) e educação para a saúde. Já no tipo 2 começa-se por uma redução de peso corporal, uma dieta própria e exercício físico. A redução de peso e exercício físico aumentam a sensibilidade do organismo à insulina, ajudando a controlar as hiperglicemias.

  O tipo de reposição de insulina mais recomendado hoje em dia é o chamado “tratamento intensivo”(recorrendo a uma caneta que na sua extremidade têm pequena agulha descartável e uma carga de insulina, com múltiplas aplicações do medicamento). Administra-se uma insulina de ação lenta ou intermediária (geralmente 1 a 2 doses diárias), associada a doses de uma insulina de acção rápida ou ultrarrápida (que controlará a glicemia durante e logo após a refeição). Já a bomba de insulina (semelhante a um aparelho  mp3 pode ser utilizado no cinto ou no bolso) envia uma quantidade predeterminada  e constante de insulina através de um tubo plástico flexível para uma pequena agulha de teflon que fica inserida na pele. Caso necessário, como logo antes das refeições  um comando no aparelho faz com que haja a libertação desta para “cobrir” a refeição.

 

  Quando estas medidas não são suficientes para controlar os açúcares de sangue elevados, são utilizados medicamentos por via oral  como a leptina, glucagon. Se os medicamentos orais são ainda insuficientes, o tratamento com insulina é considerado. As diversas opções terapêuticas para tipo 2, que podem ser utilizadas isolada ou combinadamente são:

  • 1) Biguanidas reduzem a quantidade de glicose produzida pelo fígado
  • 2) Inibidores de DPP-4 e GLP-1 induzem uma diminuição da glicemia aumentando a quantidade de Insulina produzida nenhuma pâncreas e diminuindo a quantidade de açúcar produzido no fígado
  • 3) Insulina hormona injectável que ajuda no controlo dos níveis de glicemia
  • 4) Inibidores da alfa-glicosidase abrandam a decomposição  e a absorção dos hidratos de Carbono
  • 5) Sulfonilureias e meglitinidas estimulam directamente o pâncreas para libertar Insulina
  • 6) Glitazonas ajudam o organismo de utilizar a insulina e a transportar a glucose para o interior das células

Ao selecionar a terapia para o diabetes tipo 2, deve-se considerar:

  • a magnitude da mudança no controle do açúcar no sangue que cada medicamento irá fornecer
  • outras condições médicas coexistentes (ipertensão arterial, colesterol elevado, etc., pois alguns medicamentos podem ter acção dupla)
  • efeitos adversos da terapia
  • as contra-indicações para a terapia
  • os problemas que podem afetar o cumprimento desta (tempo de frequência medicação, da dose)
  • o custo para o paciente e o sistema nacional de saúde

   Todas as informações acima se aplicam-se a pacientes que não estejam grávidas ou em fase de amamentação. No momento, a única forma recomendada de controlo de diabetes em mulheres que estejam grávidas ou em lactação é por dieta, exercício físico e terapia com insulina.

 

Tenho diabetes mellitus, como a controlo?

  

   Segundo o site www.controlaradiabetes.pt a gestão da diabetes depende da colaboração com o médico e outros profissionais de saúde, controlo da glicemia e elaboração de um diário de controlo diabetes (registo das medições de glicemia).

   Na consulta médica poderá tirar todas as suas dúvidas sobre a doença, requerer ou mostrar análises clínicas, falar sobre nutrição ou exercício e para ajudar a reduzir o risco de complicações, o seu médico também vai controlar a sua tensão arterial, o seu nível de colesterol e o seu peso.

 

Gestão da glicemia sanguínea

  • Fazer o teste HbA1C

    É uma medição padrão que revela a quantidade média de glicose presente no seu sangue ao longo dos 2 ou 3 meses anteriores e também se níveis de glicose têm estado a ser bem ou mal controlados ao longo desse período.

    Segundo as guidelines actuais o valor-alvo de HbA1C recomendado é inferior a 6,5%. Uma HbA1C mais alta do que o valor estabelecido  pela equipa de saúde torna susceptível o paciente para as complicações da diabetes (por exemplo cegueira, amputações, enfarte, disfunção sexual, entre outras) que poderiam ser evitadas.

 

  • Monitorizar os seus níveis de glicemia

   Consiste na utilização de um aparelho para medir a glicemia (glicómetro) para verificar os valores da glicemia plasmática em jejum e da glicemia plasmática pós-prandial (depois das refeições), com pequena gota de sangue proveniente de um picada no dedo e um glicómetro para medir os seus valores de glicemia.

   A auto-monitorização é geralmente feita em jejum (antes do pequeno almoço), uma hora e meia a duas horas depois do início do almoço e do jantar. No entanto, podem ser feitas mais vezes.

 

  • Compreender o intervalo de referência dos seus valores de glicemia
De acordo com a Federação Internacional da Diabetes, para a maior parte das pessoas com diabetes, os valores de glicemia normais são os seguintes:
  • Em jejum (glicemia plasmática em jejum): menos de 110 mg/dL e mais de 80 mg/dL
  • Após as refeições (Glicemia plasmática pós-prandial): menos de 145 mg/dL

 

Quais são os sinais/sintomas de alarme num paciente diabético?

O paciente/cuidador deve estar atento aos seguintes sintomas e se possível recorrer ao serviço de saúde mais próximo ou ligar 112:

  • Alucinações
  • Dificuldade em comunicar
  • Agressividade
  • Diminuição da consciência
  • Convulsões
  • Coma

 

Quais as patologias associadas?

 

As patologias associadas à Diabetes incluem:

  • Hipertensão Arterial
  • Lipedemias (Colesterol Total e Triglicerídeos elevados)
  • Pancreatite crónica
  • Pancreatectomia
  • Neoplasia do pâncreas
  • Fibrose cística
  • Hemocromatose
  • Pancreatopatia fibrocalcular
  • Acromegalia       
  • Síndrome de Cushing
  • Hipertireoidismo
  • Feocromocitoma
  • Glucagonoma
     

Caso tenha dúvidas sobre os factores de risco cardiovascular, incluindo a Diabetes também pode falar com um

Técnico de Cardiopneumologia!

 

Referências

  • Sociedade Portuguesa de Diabetologia (Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes 02/2012)
  • Organização Mundial de Saúde
  • Site Controlardiabetes.pt , portaldadiabetes.pt e medicinenet.com
  • Sociedade Brasileira de Diabetes
  • Marques, Maria Cristina Marques. FISIOPATOLOGIA DA DIABETES MELLITUS.Lab. Fisiopatologia da FFUL

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