Electrocardiograma

 

  É um exame não invasivo, utilizado para estudar e registar a actividade eléctrica do coração no momento em que é realizado (normalmente tempo de registo inferior a um segundo).

 

Quando se deve realizar um electrocardiograma?

  

   A realização do electrocardiograma está indicada  no seguimento e exame rotina para exclusão de problemas cardíacos em qualquer idade, Mas geralmente é aconselhada a sua execução na presença de:

  • Dor ou desconforto no tórax
  • Falta de ar
  • Desmaios ou tonturas recorrentes
  • Diaforese inexplicável pela temperatura ambiente, fraqueza geral inexplicável, ou náuseas e vómitos sem explicação
  • Sensação de morte iminente pelo paciente
  • Qualquer suspeita de overdose de drogas ou distúrbio metabólico
  • Palpitações
  • Frequência cardíaca inferior a 50 ou superior a 150 batimentos por minuto
  • Início e seguimento de Hipertensão arterial, Diabetes Mellitus e de doença cardiovascular conhecida
  • Desejo de prática de alguma actividade desportiva amadora ou profissional (antes e durante a mesma)

 

O que diagnostica um electrocardiograma?

 

   Um electrocardiograma diagnostica a arritmias cardíacas, distúrbios na condução e pode revelar alterações sugestivos de doença coronária. Pode ainda conter alterações sugestivas de doenças de outros sistemas de orgãos como pulmonar, renal...

 

Como é executado o exame, a sua preparação e há contra-indicações?

 

   Não é necessária nenhuma preparação para realização do exame e tem contra-indicações. O Técnico de Cardiopneumologia que o receber vai pedir-lhe para se despir da cintura para cima, fazer-lhe algumas perguntas (como idade, peso, altura e presença de factores de risco cardiovascular) e solicitar-lhe para se deitar relaxadamente numa marquesa de barriga para cima. Depois vai colocar-lhe um gel condutor (à base de água) em alguns locais no tórax e membros superior e inferiores, colocar eléctrodos (ventosas metálicas e pinças) e pedir-lhe para não fazer qualquer tipo de força muscular e respirar normalmente.

    De seguida, vai fazer um registo num aparelho próprio (electrocardiógrafo) da actividade eléctrica do seu coração, imprimi-lo e fazer o relatório.

 

 

É importante que pergunte quem lhe está a realizar o exame pois há profissionais (fisioterapeutas, enfermeiros, técnicos de análises clínicas...) e não profissionais de saúde (funcionárias da limpeza e assistentes administrativas) que apesar de não possuirem as competências necessárias realizamestes exames, sem qualquer tipo de formação comprovada na área cardiovascular.

Zele pela sua saúde e exija que o exame seja feito por profissionais de saúde habilitados - os Técnicos de Cardiopneumologia!

 

Onde posso fazer este exame?

  

   Pode realizá-lo em algumas clínicas com serviço de electrocardiografia, hospitais, alguns centros de saúde e no domícilio se houver prestação de serviços nessa área.

 

Quais as bases fisiológicas da electrocardiografia?

  

   As células cardíacas têm a capacidade de despolarizar e repolarizar, gerando assim correntes eléctricas que se espalham por todo o corpo devido  à capacidade condutora dos tecidos ao redor do coração. Quando estas correntes eléctricas são medidos por um conjunto de eléctrodos colocados em locais específicos na superfície do corpo à sua  detecção gravado é chamada electrocardiograma. E ao estudo do electrocardiograma, a electrocardiografia.

Antes de falar sobre os fenómenos eléctricos cardíacos num todo é necessário entender o que se passa nas células e como é gerada a corrente eléctrica.

 

Potenciais de Membrana

   As células cardíacas, tal como as outras células do nosso corpo e todas as células vivas, possuem uma diferença de potencial entre o meio interno e o exterior que resulta da diferença de cargas positivas e negativas (iões) entre estes dois meios. Geralmente são medidas em minivolts (mV), por convenção o meio exterior é considerado 0.

  • Potencial de repouso -   É determinado pelas concentrações de iões carregados positivamente e negativamente através da membrana celular, a permeabilidade relativa da membrana celular para estes iões, bombas iónicas e os iões que o transporte através da membrana celular.
  • Os potenciais de membrana são determinados pela presença principalmente dos iões Na+ (Sódio), K+(Potássio) e Ca++(Cálcio), da permeabilidade da célula cardíaca a esses iões e disponibilidade das suas bombas transportadoras
  • Despolarização - quando há inversão do potencial de repouso da membrana devido a estímulos levando ao potencial de acção

  • Repolarização - o restabelecimento do potencial de membrana da célula para potencial de repouso após a despolarização

  • Potencial de acção - Ocorrem quando o potencial de membrana  despolariza e repolariza de volta ao seu estado de repouso.Existem dois tipos nas céluas cardácas:

       - Potenciais de acção de células não pacemaker (são activadas por células vizinhas) - Correspondem as potenciais nas células musculares das

         aurículas e dos ventrículos e das fibras de Purkinje,

       - Potenciais de acção de células pacemaker (geram o seu próprio potencial de acção) - Correspondem as potenciais nas células do nó sinusal, nó AV e

         fibras ventriculares

 

O coração bate sincronizadamente graças às fibras musculares que contrem e relaxam de forma coordenada e rítmica. Isto acontece graças a um sistema eléctrico intrínseco que provoca a fenonómenos de despolarização/repolarização das células que compõem o músculo cardíaco e permite a sua contracção, possibilitando o bombeamento sanguíneo contínuo para todas as zonas do corpo e assim oxigenação eficiente de todos os tecidos.

  • O estímulo eléctrico começa no nó sinusal (SA) na aurícula direita que possui células que provocam potenciais de acção (recorrendo as canais e cálcio lentos) a uma frequência normal de 50 a 100 estímulos/minuto.
  • Percorre ambas as aurículas até ao Nó Aurículo-ventricular onde o estímulo é atrasado, para evitar a contracção simultânea de aurículas e ventrículos
  • Chega depois ao sistema His-Purkinje, que se origina do nó AV, e continua  ao longo do septo interventricular para os ventrículos, dividindo-se em ramo direito e esquerdo para cada um dos ventrículos, no final do sistema de condução temos as fibras de Purkinje que se estendem entre as fibras miocárdicas
  • Como consequência quando o estímulo chega ao nó AV as aurículas contraem permitindo que o sangue passe para os ventrículos e quando se percorrem todas as fibras de Purkinje, ambos os ventrículos contraem simultaneamente

 

   As células do músculo cardíaco são interligados para formar um sincício (membrana celular que engloba vários núcleos), permitindo que o estímulo eléctrico se propague rapidamente de uma célula cardíaca para a próxima. O músculo cardíaco é controlado por mecanismos fisiológicos involuntários e por nervos específicos e possui automatismo, excitabilidade, conductividade e contractilidade. 

 

   A taxa de estímulos/minuto do nó SA é controlada pelo sistema nervoso central, mais propriamente pelo sistema nervoso autónomo (originado no bulbo raquidiano do cérebro) parassimpático- através do nervo vago e pelo simpático- por nervos simpáticos e, pelos barorreceptores.

 

   A actividade do sistema de condução pode ser captada através do contacto entre eléctrodos, feitos de aço inoxidável e revestidos por prata ou cloreto de prata, um gel condutor e a pele.

Os eléctrodos não são colocados ao acaso, são colocados nos membros superiores e inferiores em locais específicos do tórax para representarem fielmente a actividade eléctrica cardíaca. São colocados 10 eléctrodos para se obterem 12 derivações (cada derivação corresponde a um par de eléctrodos ligados à superfície do corpo).

Colocação dos eléctrodos:

- Braço esquerdo (porção medial do pulso esquerdo) - cor amarela

- Braço direito (porção medial do pulso direito) - cor vermelha

- Perna esquerda (porção medial do tornozelo esquerdo) - cor verde

- Perna direita (porção medial do tornozelo direito) - cor preta

- Quarto espaço intercostal, linha paraesternal direita (V1) - cor vermelha

- Quarto espaço intercostal, linha paraesternal esquerda (V2) - cor amarela

- Quinto espaço intercostal, linha hemiclavicular esquerda junto ao bordo direito do manúbrio esternal (V4) - cor castanha

- Ponto médio entre V2 e V4 (V3) - cor verde

- Quinto espaço intercostal, linha axilar anterior (V5) - cor preta

- Quinto espaço intercostal, linha axilar média (V5) - cor roxa

 

Derivações obtidas:

1) Plano vertical ou frontal:

  • Derivações aumentadas dos membros aVR, aVL, aVF e DI, DII e DIII

2) Plano horizontal ou précordiais:

  • V1 a V6

   O sinal captado por estes eléctrodos  é convertido sob a forma de um gráfico de amplitudes e durações que dá muitas informações sobre:

  • a orientação anatómica do coração
  • o tamanho relativo das diversas câmaras cardíacas
  • uma variedade de alterações do ritmo e condução
  • a extensão, localização e progressão de lesões isquémicas do miocárdio
  • os efeitos de alterações de concentrações de electrólitos
  • a influência de determinados fármacos (p. e. os digitálicos,bloqueadores beta e outros usados para tratar anomalias cardíacas)

 

O que representam as deflecções/ondas num traçado de electrocardiograma?

   Um traçado de ECG pode parecer muito complicado mas na verdade trata-se de uma representação sob a forma de ondas e medição de intervalos da actividade eléctrica cardíaca, nomeadamente da despolarização e repolarização das células das aurículas e ventrículos. O ECG não mede valores absolutos  mas alterações de voltagem da apartir de uma linha de base isoléctrico. Os ECGs são registados em papel, geralmente, a uma velocidade de 25 mm/s e com uma calibração vertical de 1 mV /cm.

 

Significado e duração/morfologia/amplitude  de intervalos e onda do ECG

Onda P

Despolarização

das aurículas

Duração

<0,12s

Amplitude

<2,5mm

Intervalo PR

Tempo de repolarização

das aurículas e

atraso do nó AV

Duração

Morfologia

0,12-0,20s

Isoléctrico

(deve coincidir com a linha de base)

Complexo QRS

Despolarização

dos ventrículos

Duração

0,08 a 0,10s

Amplitude

Onda q<1/4 onda R e duração <0,04s

Onda R précordiais <30mm

Onda S précordiais <27mm

Segmento ST

Período entre a despolarização

e repolarização ventriculares

Morfologia

isoeléctrico

Onda T

Repolarização ventricular

Amplitude

<6mm nas deriv.periféricas

<10mm nas deriv.précordiais

Intervalo QT

Duração do potencial

de acção ventricular

Duração

QTc=0,30 a 0,46

QTc=QT/√RR

Onda U

usualmente não é visível

num ECG normal

Amplitude

5-25% da onda T, usualmente <1,5mm

 

 

Como é feita a análise?

 

    A análise é feita automaticamente pelo aparelho em termo de durações e amplitudes registando-se os valores máximos no próprio traçado, também faz registo se ou electrocardiograma é normal ou tem algumas alterações, mas é pouco confiável e necessita sempre de ser confirmado pelo Cardiopneumologista.

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Referências

  • Klabunde, R.E. Cardiovascular Physiology Concepts, Lipincott Williams & Wilkins, 2012
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